terça-feira, 13 de março de 2012

Antes que seja tarde



Amigo, 
tu que choras uma angústia qualquer 
e falas de coisas mansas como o luar 
e paradas 
como as águas de um lago adormecido, 
acorda! 
Deixa de vez 
as margens do regato solitário 
onde te miras 
como se fosses a tua namorada. 
Abandona o jardim sem flores 
desse país inventado 
onde tu és o único habitante. 
Deixa os desejos sem rumo 
de barco ao deus-dará 
e esse ar de renúncia 
às coisas do mundo. 
Acorda, amigo, 
liberta-te dessa paz podre de milagre 
que existe 
apenas na tua imaginação. 
Abre os olhos e olha, 
abre os braços e luta! 
Amigo, 
antes da morte vir 
nasce de vez para a vida. 

Manuel da Fonseca, in "Poemas Dispersos
"

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