sábado, 16 de abril de 2011

A BORBOLETA
Filha da larva que o inverno hostil
Gelou numa dureza concentrada
Ao aquecer do flavo Sol d'Abril
Surgiu de forma leve e curva alada.
  
Íris que voa, aspiração subtil
Da flor que quis ser ave, e transformada
Libra no ar a pétala gentil,
Asa da cor, paleta iridíada
  
Poisa tão breve que se um sopro a agita
Ergue-se e bambolina num fulgor...
Aflora os lábios d'uma margarita.
  
Abrindo manchas, vai de flor em flor
Flutua, anseia, embala-se e palpita...
Como um bailado trémulo de cor.


Jaime Cortesão (1884-1960), in Poesias II

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