quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Para vós o meu canto ............... Sidónio Muralha


Para vós o meu canto, companheiros da vida!
Vós, que tendes os olhos profundos e abertos,
vós, para quem não existe batalha perdida,
nem desmedida margura,
nem aridez nos desertos;
vós, que modificais um leito dum rio;
- nos dias difíceis sem literatura,
penso em vós: e confio;
penso em mim e confio;
- para vós os meus versos, companheiros da vida!
Se canto os búzios, que falam dos clamores,
das pragas imensas lançadas ao mar
e da fome dos pescadores, 
- penso em vós, companheiros,
que trazeis outros búzios para cantar...
Acuso as falas e os gestos inúteis;
aponto as ruas tristes da cidade
a crivo de bocejos as meninas fúteis...
Mas penso em vós e creio em vós, irmãos,
que trazeis ruas com outra claridade
e outro calor no apertar das mãos.
E vou convosco. - Definido e preciso,
erguido ao alto como um grito de guerra,
à espera do Dia de Juízo...
Que o Dia do Juízo
não é no céu... é na Terra!
-
Sidónio Muralha

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Poemas de ponta & mola


poesia & poesia

poesia pró coração
poesia procuração
poesia rissóis pra fora
poesia para a velhice
para atrasados mentais
e também prá parvoíce

poesia libidinosa
para acordar os chéchés
e pra outras coisas mais

a poesia cor-de-rosa
para corações doentes
de donzelas suspirosas
rosas rosas amarelas

poesia clorofilada
para lavagem de dentes

poesia para o natal
expressamente encomendada
e poesia natalícia
pró menino dos papás
a poesia necrológica

dum velhinho trucla zás

a poesia só formal
porque o poeta coitado
tem o vício de escrever

a poesia cautelosa
porqu’isto nunca se sabe

a poesia fadunchada
e uma fadista aluada

a poesia da borbulha
que passa depois daquilo

poesia obrigada a mote
a cavalo num poeta
sentado num burro a trote

a poesia pra que conste
dum poeta muito muito
muito muito muito bicha

poesia quinquagenária
duma jovem rapariga

poesia bordada à mão
dum ancião já sem pé

a poesia ao pé da mão
a poesia ao pé do pé

poesia encapada capada

poesia para tudo
poesia para nada

Mendes de Carvalho "Poemas de ponta & mola"

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Chico César Maria Bethânia - Onde Estará O Meu Amor.flv








Epigrama gastronómico
Há mil e cem anos
de poesia num só dia,
mil e cem palavras
numa só sílaba,
mil e cem páginas
numa linha

- quando abro o livro
do teu corpo, e provo mil
e cem receitas num só
a
mor.

Nuno Júdice





Os caracóis e as carpas têm cornos



os caracóis e as carpas têm cornos
vês, eu não te dizia?
as carpas e os caracóis não têm cornos
vês, eu não te dizia?
as caracoias e os carpos têm cornos
vês, eu não te dizia?
os carapoicos e os parcos não têm cornos
vês, eu não te dizia?
as carapaias e os porcos têm cornos
vês, eu não te dizia?
os caracoicos e as parras não têm cornos
vês, eu não te dizia?
as carassaias e os parcas têm cornos
vês, eu não te dizia?
os caracorpos e as praias não têm cornos
vês, eu não te dizia?
as caracaias e os poicos têm
vês

Ana Hatherlyum calculador de improbabilidades
Quimera, 1ª edição 2001

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Espetáculo | 12 de fevereiro | 18:30 | FLAUSINA | Lisboa

Miopias, utopias e outras fantasias...
Poesia e Música
piano | acordeão
Uma seleção de poemas de amor, ou talvez não…

Direção artística, piano e acordeão – Reymundo
Seleção e apresentação de textos – Maria Figueiredo

Duração: 60'
3€
Local: Flausina -  Lisboa 
Calçada Salvador Correia de Sá n.18, Lisboa

Calçada Salvador Correia de Sá n.18, Lisboa
(junto ao Elevador da Bica - Rua de S. Paulo)